terça-feira, 3 de novembro de 2015

Soteropolitano

Fui com a minha família para Salvador, pois minha mãe tinha vontade de conhecer a cidade e finalmente fui com elas para realizar este sonho. Elas adoraram o que viram e fiquei feliz em ter proporcionado estes momentos de lazer e puro conhecimento cultural, onde a história do nosso país também é contada nas ruas da cidade que foi a primeira capital do Brasil.
Num desses momentos, minha sobrinha me perguntou como eram chamadas as pessoas que nasciam em Salvador e eu refiz a pergunta para ela, tendo a seguinte resposta: "Salvadorense". Eu ri e pedi explicações. Ela replicou e disse: Eu sou "Garanhuense" e quem mora em Recife é "Recifense". Ela estava certa pela lógica e admirei isso nela, pois não foi a primeira vez que uma criança tão pequena me surpreendeu com algumas palavras que disse. 
Eu falei para ela: "Quem nasce em Salvador é Soteropolitano" e ela achou engraçada a palavra e disse que era difícil de falar. A curiosidade dela me surpreendeu em cada momento da viagem, pois enquanto a minha outra sobrinha, já em idade adolescente, não me perguntava nada e não se interessava por nada, a não ser com o sinal do wi-fi ou internet, a menor era intensamente curiosa e me perguntava tudo, para saber o porquê de tantas coisas novas que via e que para ela eram momentos de grande contemplação.
Gostei, pois percebi muito de mim nela e a curiosidade que ela tem é a mesma que possuo quando vou até a um novo lugar e dele tento tirar todas as minhas impressões, seja através de fotografias ou com conversas informais com as pessoas do lugar. 
Talvez ela nunca despertasse para o nome correto da pessoa nativa da cidade e muitos outros pontos podiam ser simplesmente vistos e nunca comentados, o que seria muito ruim para o aprimoramento dela como pessoa que tem o mundo ao seu redor. Eu, na minha época de criança, não tinha acesso a nada disso, mas tinha curiosidade e os livros eram a minha maior fonte de informação.
Lembro quando fui à Salvador pela primeira vez e como a formalização das imagens e da cultura que via nas páginas dos livros foi mágica para mim. Eu não conseguia conter a felicidade e lembro muitos momentos como se fossem hoje, mesmo após 30 anos decorridos.
Fico triste quando percebo a minha sobrinha maior reclamar do cansaço para caminhar pelos pontos turísticos da cidade, na flor da idade dos seus treze anos. Muitos queriam ter o momento que ela teve e não aproveitou, pois se preocupava mais com as mensagens das redes sociais do que com a realidade que vivenciava nestes poucos dias de passeios na cidade de Salvador.
Passar por momentos oportunos todos nós temos essa sorte, mas abrir os olhos para enxergá-los de frente, se preocupando com as informações simples e mais complexas, poucos possuem. Se minha sobrinha hoje sabe pronunciar a palavra "Soteropolitano" corretamente pouco me importa, mas a curiosidade dela em todos os momentos que vivemos me deixou muito feliz e consciente de que ela não voltou a mesma para casa.
O que me preocupa é ter escutado da minha outra sobrinha, que supostamente teria mais percepção da vida, uma renitente reclamação que não para de soar na minha mente: "Ô tio, vamos para o hotel, eu estou cansada..."
Cansado estou eu de ver como as pessoas da nova geração não se interessam por nada e procuram ter atividades cada vez mais automáticas e que não utilizam o cérebro de maneira adequada e construtiva. A facilidade da informação ajuda, mas bloqueia o interesse e a curiosidade.
Por onde andarmos, temos que despertar o interesse e nos informamos do que há de melhor no local, pois, se não for assim, passaremos sem achar graça nenhuma e a nossa vida não terá nada para ser lembrada. As vivências, curiosidades e sensações ainda são as maiores fontes de aprendizado que o ser humano pode ter ao seu lado.
É muito bom lembrar de tudo...















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