Dona Canô foi o retrato de uma mãe zelosa e de uma mulher cuidadosa e muito religiosa, onde sempre estava presente nos festejos sacros da cidade de Santo Amaro da Purificação e fazia com que isso se tornasse um evento de grande significação e reconhecimento. Ela partiu e deixou todos nós saudosos do seu jeitinho terno, sorriso cativante e olhar sereno, justamente no mesmo dia que marca o nascimento de Cristo. Coincidência ou não, ela morreu e nasceu no mesmo dia, pois agora está em um lugar confortável e que receberá o seu espírito de uma forma acolhedora, fazendo com que ela continue nos enviando as suas palavras de ternura e sabedoria.
Quando penso em Dona Canô, penso na imagem de uma mãe exemplar, onde recebe seus filhos de braços abertos e faz com que cada um tenha a sua individualidade e possa desfrutar do que a vida tem de melhor. Num documentário que fala da vida de Maria Bethânia, a cumplicidade da família é muito grande e termina deixando todas as pessoas felizes com tamanha demonstração de carinho que há entre eles, especialmente por Maria Bethânia, que idolatra a mãe com um fervor admirável. Num dos seus shows, é emocionante a homenagem que ela faz à sua mãe e como ela se tornou importante para os seus dias e caminhos, servindo sempre como inspiração.
Ela era muito querida na pequena cidade de Santo Amaro da Purificação e organizava grandes festas religiosas, mostrando muita vitalidade e poder diante de tantas responsabilidades. Há algum tempo, a idade já não permitia que ela fizesse muitas extravagâncias, mas o seu olhar terno não mudou com o tempo e fez da senhora pequena no tamanho, uma gigante em matéria de amor e carisma.
Seus últimos momentos foram vividos em casa, ao lado de todos que ela viu crescer e que faziam parte da sua família, seja composta por famosos ou anônimos. Foram 105 anos de vida, de dedicação aos filhos e de muita alegria com suas palavras certeiras sobre a vida, amor e religião. Quando saiu do hospital no último dia 21/12, pediu um vestido novo, na cor branca, e mesmo com a saúde debilitada, mostrava lucidez e serenidade em todos os momentos. Morreu cercada pelos seus filhos, netos e parentes, de forma calma, sem sofrimento. Estava cumprido o tempo de vida da mulher que nos cativou e nos presenteou com dois grandes ícones da MPB, Caetano e Bethânia. Certamente um pouco do seu jeito ficarão em cada um deles e o mundo ainda poderá desfrutar das suas belas imagens captadas por muitos fotógrafos e que fizeram parte da vida de cada um de nós.
O Chamado de Dona Canô ninguém pode negar...
Descanse em paz.
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