O filme "O Som ao Redor" de tão simples se tornou uma obra prima, onde o cotidiano de uma vizinhança se transforma numa trama cheia de mistérios e conflitos pessoais e psicológicos, que geram um desfecho inacreditável e cheio de sentimentos.
Rodado no Recife, bem pertinho da minha casa, quase na minha rua, o filme demonstra um pouco dos sons e costumes de uma sociedade desigual e que nem sempre se une em prol dos direitos comuns, ocasionando alguns conflitos, onde a máscara humana cai e termina mostrando que as pessoas não são o que esperamos delas.
Se de um lado uma mulher aflita, insone e viciada em drogas é uma mãe cuidadosa, por outro termina sendo uma mulher infeliz e sexualmente mal resolvida, que recorre aos dotes de uma máquina de lavar para satisfazer um pouco do seu desejo sexual reprimido e atormentado pelas noites de sono mal dormidas. Seus filhos são um alívio e numa demonstração pura de cumplicidade, fazem gestos que demonstram o quanto eles sentem e se influenciam com as ocorrências da vida dos pais.
Nesta mesma rua pode morar um senhor feudal do passado e hoje detentor de muitos imóveis, tendo com isso a certeza de que nada lhe atingirá e que o seu domínio continua alto como outrora, podendo até fazer com que os crimes do seu neto delinquente sejam omitidos ou vistos pela sociedade de maneira grosseira e sem atitude nenhuma.
Relacionamento amoroso triste, frio e com reflexo de uma vida profissional frustrada é também um dos temas desse filme que há alguns meses tem arrebatado vários prêmios no Brasil e no mundo e ganha cada dia mais elogios pela forma simples de contar um drama de todos nós, já que vizinhos ruins e barulhentos todos nós conhecemos bem.
A minha vizinha, inclusive, deveria ter sido chamada para fazer uma participação especial no longa, pois de barulho ela entende e incomodar as pessoas é a atividade que ela mais faz com maestria. É o "Meu Som ao Redor" diário onde aliada a dois filhos descontrolados ela consegue tornar alguns dias meus infernais, pois ainda não descobri se ela mora ou faz do apartamento uma zona de guerra, onde os gritos, barulhos e palavrões são as fontes de inspiração mais corriqueiras.
Gostei do filme, pela simplicidade, pela forma de tratar um assunto tão comum de forma tão inteligente. Os diálogos são curtos, quase depressivos e talvez uma roteirização mais ágil o tivesse tornado mais completo e com personagens mais alegres, já que todos são tristes demais e carregam dentro de si a complexidade do ser humano e de todas as suas falhas e grandezas, pois nem só de problemas o filme é construído e demonstra, também, a bondade e o modo de vida de cada pessoa se comportar num mundo que nem sempre imaginamos existir e que na calada da noite se mostram mais presentes para os que estão vigilantes e atentos à nossa vida.
Ouçamos o som ao redor...
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