O que mais vi na virada do ano foram as pessoas vestidas de branco e azul para saudar o orixá das águas salgadas, Yemanjá. No catolicismo ele é representada por Nossa Senhora da Conceição e sempre é vista como uma entidade do bem, protetora, com espírito materno.
A maioria das pessoas torce o nariz para os cultos africanos, mas terminam em determinados momentos fazendo atos que foram criados para reverenciar os orixás que estão associados aos elementos da natureza e mostram a força do homem diante de todas as adversidades que a vida apresenta.
Estava lendo uma reportagem que falava o significado das oferendas realizadas no mar em vários períodos do ano, especialmente na virada do ano e no dia 2 de fevereiro, que é o dia dedicado à Yemanjá. O texto dizia que esta prática surgiu como forma de agradar o orixá para que ele enviasse mais peixes e fartura através do mar, pois na época que isso começou a ser feito, a pesca estava muito ruim e após as oferendas, os pescadores tiveram um bom período de fartura e desde então não pararam mais de agradecer.
Muita gente pula as ondas do mar pensando que é para dar sorte, mas é uma outra forma de agradar o orixá que latinamente teve sua imagem associada a de uma sereia, vaidosa, de cabelos fartos e formas generosas. Foi isso que vi nesta imagem que está no Largo da Mariquita, em Salvador, pois a sensualidade é muito presente e mostra uma entidade bem diferente das que encontramos na religião católica, onde os santos e santas sempre estão bem vestidos e possuem na sua maioria pele branca e feições serenas.
Muita gente até brinca dizendo que Yemanjá devolve tudo que não gostou, pois é bem significativa a sujeira que fica na praia no dia seguinte às oferendas e por isso notamos que tudo não passa de um ritual, de uma forma de acreditarmos em algo que enaltece o nosso ego ou até a nossa crendice, já que somos um país cheio de diferenças culturais e cada uma delas mostra uma forma diferente de cultuarmos os mais variados seres que temos a liberdade de saudar, da forma que desejarmos, com os elementos que achamos mais convenientes.
O que deveria ser mais comum entre as pessoas era a tolerância, pois acredito que todos nós somos livres para acreditar no que é mais forte e presente para nós e que de certa forma alimentam a nossa necessidade de nos apegarmos ao que for mais bonito, mas óbvio ou conveniente.
Se o Brasil tivesse tido outra forma de desenvolvimento cultural, talvez não tivéssemos tantas diferenças religiosas e as tolerâncias seriam bem mais fáceis de serem vistas e aceitadas.
Independente da religião de cada um, vale a oferenda que fazemos para o bem e como ela realmente está adaptada aos nossos passos aqui na terra, pois nada vale ficarmos falando pelo bem e blasfemando a cada piscar de olhos.
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