Viúva, Porém Honesta!

Ontem o grupo teatral pernambucano Magiluth apresentou, no Teatro de Santa Isabel, o espetáculo "Viúva, porém Honesta", da obra do escritor Nelson Rodrigues e o que posso comentar sobre o que vi é que a criatividade não tem limites quando a usamos em favor da arte e do compromisso cênico, uma vez que os artistas mostraram como podemos tornar uma estória seria e cheia de tabus em algo engraçado e muito bem apresentado.

A peça só mostrou inovações e uma das que mais gostei foi o revezamento dos atores no palco, pois não havia personagem fixo para nenhum deles e cada um dava o seu toque pessoal ao enredo e fazia dele algo incomum e muito interessante de ser visto. Este atributo é glorioso, mas exige do público mais atenção aos detalhes, pois uma pessoa pouco perceptiva e mal acostumada aos truques do teatro ficará sem saber o que realmente acontece em cena, devido ao malabarismo de falas e gestos que ocorrem durante a apresentação.

Outro aspecto positivo, foi a modernização do espetáculo, não pelo texto, mas por algumas referências e sons que inundavam as cenas com muita animação e competência. A estória de Nelson Rodrigues continuou firme e notávamos todos os seus aspectos principais na apresentação, mas era perceptível a preocupação do grupo com a diversificação dos fatos, fazendo com que estes ficassem atrelados a referências mais atuais e possibilitando, com isso, um melhor entendimento e satisfação. As gargalhadas do público mostraram isso e um texto que seria muito frio se fosse levado a um modelo tradicional de apresentação, se tornou uma comédia inesquecível e muito interessante de ser vista.

A peça marcou a estreia do 10º Festival Recifense de Literatura e foi dada de presente ao público numa linda apresentação gratuita e que fez o teatro ficar lotado.

A estória mostrava a preocupação de um pai em conseguir um marido para a filha precocemente viúva, temendo que esta ficasse mal falada, mas o que percebemos nitidamente são os grandes contrastes sociais que Nelson Rodrigues sempre retratou nas suas obras picantes, quando mostrava uma sociedade hipócrita e pouco verdadeira, onde os desejos mais carnais eram escondidos somente para fazer média diante da sociedade, mas se tornavam desejos primordiais no pensamento e no corpo de todos.

A viúva não sabia se queria um marido ou um amante, mas ficou clara a presença do Nelson Rodrigues em cada palavra, cada crítica e cada sensação vivida. Se a viúva era honesta ou não, isso não importa, pois ela conseguiu nos fazer rir e desfrutar de um ótimo espetáculo, algo como há muito tempo não tinha presenciado.

Parabéns ao grupo Magiluth pela apresentação. Digna de aplausos calorosos, como ontem se viu!
É bom para o moral, é bom para o moral...